OPINIÃO – JOSÉ BERNARDINO DE SENA https://staging.aimprensaonline.com.br My WordPress Blog Thu, 13 Mar 2025 20:54:46 +0000 pt-BR hourly 1 https://wordpress.org/?v=6.8  Imposto de Renda 2025: novas regras exigem mais atenção dos contribuintes https://staging.aimprensaonline.com.br/2025/03/13/imposto-de-renda-2025-novas-regras-exigem-mais-atencao-dos-contribuintes/ https://staging.aimprensaonline.com.br/2025/03/13/imposto-de-renda-2025-novas-regras-exigem-mais-atencao-dos-contribuintes/#respond Thu, 13 Mar 2025 19:15:00 +0000 https://aimprensaonline.com.br/?p=69494 Opinião
André Felix Ricotta de Oliveira

A Receita Federal divulgou a Instrução Normativa RFB nº 2.255/2025, que estabelece as diretrizes para a Declaração do Imposto de Renda Pessoa Física (IRPF) deste ano. Entre as principais mudanças, destacam-se a ampliação do limite de isenção, novas exigências para bens e rendimentos no exterior e a obrigatoriedade de informar trusts e aplicações financeiras internacionais. O prazo de entrega começa em 17 de março e vai até 30 de maio de 2025.

De acordo com o advogado tributarista André Felix Ricotta de Oliveira, doutor e mestre em Direito Tributário pela PUC-SP e membro da Comissão de Direito Tributário da OAB-SP (subseção Pinheiros), a Receita Federal busca aprimorar a fiscalização e a transparência dos dados. “O aumento da faixa de isenção era esperado, mas ainda está longe do reajuste ideal. Se a tabela do IR fosse atualizada pela inflação, quem recebe até R$ 5 mil por mês estaria isento”, afirma o especialista.

Uma das novidades mais comentadas é a inclusão de contas no exterior na declaração pré-preenchida. “Agora, os contribuintes poderão visualizar essas informações automaticamente, o que facilita o preenchimento, mas também aumenta a fiscalização sobre quem mantém patrimônio no exterior”, explica Oliveira.

Outro ponto relevante é a prioridade na restituição para quem optar pelo pagamento via PIX e pelo uso da declaração pré-preenchida. “Esse incentivo pode reduzir a burocracia para o contribuinte e agilizar o recebimento dos valores a restituir”, acrescenta o tributarista.

Apesar das facilidades, o especialista alerta para cuidados com o acesso à conta gov.br. “O login dá acesso a diversos serviços do governo, incluindo transações bancárias. Compartilhar essa senha pode trazer riscos financeiros e de segurança”, orienta Oliveira.

Sobre o preenchimento da declaração, ele recomenda paciência. “Para a maioria dos brasileiros, especialmente assalariados, a declaração pré-preenchida facilita muito o processo. Quem tem rendimentos de investimentos, ações ou ganhos de capital deve revisar atentamente e incluir as informações que não forem automaticamente preenchidas”, destaca.

Com a ampliação da base de dados da Receita Federal e novas regras de fiscalização, a recomendação dos especialistas é que os contribuintes fiquem atentos para evitar omissões e possíveis autuações. “A Receita tem cada vez mais acesso às informações financeiras dos contribuintes. A melhor estratégia é declarar corretamente e dentro do prazo”, finaliza Oliveira.

*André Felix Ricotta de Oliveira, doutor e mestre em Direto Tributário pela PUC/SP e membro da Comissão de Direito Tributário e Constitucional da OAB/SP subseção Pinheiros.


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Interação justa entre varejo e indústria têxtil é crucial na era da sustentabilidade e digitalização https://staging.aimprensaonline.com.br/2025/02/28/interacao-justa-entre-varejo-e-industria-textil-e-crucial-na-era-da-sustentabilidade-e-digitalizacao/ https://staging.aimprensaonline.com.br/2025/02/28/interacao-justa-entre-varejo-e-industria-textil-e-crucial-na-era-da-sustentabilidade-e-digitalizacao/#respond Fri, 28 Feb 2025 19:55:00 +0000 https://aimprensaonline.com.br/?p=69296 Opinião

A relação entre o varejo e a indústria têxtil e de confecção representa um pilar fundamental para o funcionamento saudável de toda a cadeia de moda. No entanto, as práticas comerciais atuais têm gerado tensões que impactam não apenas os negócios, mas também milhões de trabalhadores globalmente. Essa questão foi o foco principal do “Fórum on Due Diligence in the Garment and Footwear Sector”, realizado em fevereiro deste ano, em Paris, pela Organização para a Cooperação e Desenvolvimento Econômico (OCDE).

​As discussões e conclusões do encontro oferecem valiosos insights para aprimorar a interação de nossa indústria tanto com varejistas nacionais quanto com os compradores internacionais. É importante ressaltar que o modelo tradicional de negócios em nosso setor frequentemente impõe exigências excessivas aos fabricantes, incluindo alterações de última hora em pedidos já confirmados, prazos de pagamento muito longos, pressão constante por preços cada vez mais baixos, ausência de compromissos duradouros e falta de planejamento colaborativo.

​ Tais condições adversas geram consequências prejudiciais para todos os envolvidos. Para a indústria, resultam em instabilidade financeira, dificuldade no planejamento produtivo, investimentos limitados em tecnologia e inovação e, por vezes, comprometimento dos padrões de excelência. Os trabalhadores também são afetados. O próprio varejo sofre com problemas de qualidade, atrasos nas entregas, alta rotatividade de fornecedores e riscos à sua reputação.

​ A propósito, vale observar os dados de 2024 referentes aos prazos das encomendas dos varejistas aos fabricantes, apresentados na Première Vision, em novembro último, pelo Instituto Français de la Mode. O aprovisionamento de longo prazo (seis meses ou mais antes da estação) representou 48% do total, enquanto o médio prazo (seis meses ou menos antes da estação) foi de 33% e o curto prazo (dentro da estação), 19%.

A criação e adoção voluntária de práticas comerciais mais equilibradas podem melhorar o panorama da cadeia de valor, proporcionando benefícios significativos para todos. O planejamento colaborativo emerge como elemento crucial, abrangendo o estabelecimento conjunto de previsões de demanda, compartilhamento transparente de informações de mercado, definição clara de calendários de desenvolvimento e produção e compromissos de volume consistentes e de longo prazo. A precificação justa desempenha papel igualmente determinante, considerando os custos reais de produção, garantindo margens adequadas para investimentos em melhorias, chancelando o valor agregado e promovendo negociações transparentes.

Para a indústria, esses avanços significam maior estabilidade financeira, capacidade de investimento em inovação, desenvolvimento de produtos diferenciados e relacionamentos comerciais duradouros. Os trabalhadores beneficiam-se com melhores condições laborais e oportunidades mais amplas de crescimento profissional. O varejo, por sua vez, obtém produtos de maior qualidade, fornecedores mais comprometidos, cadeias de suprimento mais confiáveis e melhor reputação corporativa.

​ A revisão dos processos interativos deve considerar as transformações disruptivas pelas quais o setor têxtil e de confecção está passando globalmente. A digitalização avança rapidamente, viabilizando sistemas integrados de planejamento, plataformas colaborativas avançadas, rastreabilidade completa da cadeia de suprimentos e métricas precisas de desempenho. Ao mesmo tempo, a sustentabilidade impõe-se como imperativo estratégico. Fibras regeneradas, tecnologias de reciclagem mecânica e química, além de novas regulamentações ambientais, estão inaugurando uma nova era para nossa atividade.

​Nesse cenário dinâmico, a construção de relações comerciais mais equilibradas entre varejo e indústria têxtil não representa apenas uma questão ética, mas uma necessidade estratégica para a sustentabilidade do setor. A adoção proativa de melhores práticas comerciais pode criar um círculo virtuoso benéfico para toda a cadeia produtiva, desde os trabalhadores nas fábricas até o consumidor final.

O Brasil detém condições singulares para liderar esse movimento transformador, por contar com todos os elos da cadeia produtiva e distributiva integrados em seu território. As empresas que encabeçarem as mudanças contribuirão para que o setor seja mais sustentável e se destacarão, pois se posicionarão competitivamente em um mercado cada vez mais consciente e exigente.

​O estabelecimento de modelos comerciais mais justos representa um investimento estratégico no futuro do setor, criando alicerces sólidos para inovação, crescimento sustentável e relações comerciais duradouras. À medida que mais empresas adotem voluntariamente essas práticas, será consolidado um novo paradigma de mercado, demonstrando ser possível harmonizar sucesso comercial e econômico com responsabilidade social e sustentabilidade ambiental.

*Fernando Valente Pimentel é diretor-superintendente e presidente emérito da Associação Brasileira da Indústria Têxtil e de Confecção (Abit).

*Camila Zelezoglo é gerente de Sustentabilidade e Inovação da Abit.


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Trump, imigração e a ONU https://staging.aimprensaonline.com.br/2025/02/26/trump-imigracao-e-a-onu/ https://staging.aimprensaonline.com.br/2025/02/26/trump-imigracao-e-a-onu/#respond Wed, 26 Feb 2025 21:29:00 +0000 https://aimprensaonline.com.br/?p=69214 Opinião
* Por João Ibaixe Jr. e Jonathan Hernandes Marcantonio 

A política de imigração nos Estados Unidos é um tema complexo e controverso, especialmente com a retomada do mandato de Donald Trump. O discurso anti-imigração do presidente eleito tem gerado preocupações sobre os impactos na economia, na sociedade e nos direitos humanos. A Organização das Nações Unidas (ONU) tem defendido a dignidade e a igualdade como pilares da convivência global, enquanto as ações de Trump priorizam a soberania nacional, muitas vezes em detrimento dos direitos de populações vulneráveis.

A política de Trump de deportação em massa e a construção de um muro na fronteira com o México são exemplos de como o discurso anti-imigração pode levar a medidas que violam os direitos humanos. A separação de famílias na fronteira e a restrição de entrada de cidadãos de determinados países também demonstram a priorização de barreiras nacionais e a exclusão de pessoas em situação de vulnerabilidade. Isso é contraditório com os princípios da Declaração Universal dos Direitos Humanos (DUDH) de 1948, que asseguram que todos os indivíduos possuem dir eitos inalienáveis, independentemente de nacionalidade, raça ou condição migratória.

A ONU defende que os imigrantes e refugiados têm direito a buscar asilo em outros países para fugir da perseguição e que devem ser tratados com dignidade e respeito. No entanto, as políticas de Trump têm enfraquecido esse direito, como a política de “Remain in Mexico”, que obrigava solicitantes de asilo a permanecerem no México enquanto aguardavam o processamento de seus pedidos. Isso os expunha a condições precárias e perigosas, em contradição com os padrões internacionais de proteção humanitária.

Além disso, a economia dos Estados Unidos depende da mão de obra imigrante para manter a economia. A chegada dos imigrantes na América do Norte em busca de oportunidades impulsionou a infraestrutura e a inovação do país, trazendo impactos positivos para a economia. Segundo o relatório Efeitos do Aumento da Imigração no Orçamento Federal e na Economia, divulgado pelo Gabinete de Orçamento do Congresso (CBO), o aumento da imigração no país pode trazer mudanças no Produto Interno Bruto (PIB), na inflação, nos juros e no orçamento dos EUA.

A mão de obra imigrante é um fator de dependência dos Estados Unidos. Com a escassez de mão de obra qualificada especialmente nas áreas de saúde, tecnologia e construção civil, os imigrantes assumem essas funções, desempenhando papéis fundamentais em diversos setores da economia. A agricultura, por exemplo, necessita de trabalhadores para manter o abastecimento interno e as exportações. Já na área da saúde, os imigrantes ocupam postos de enfermeiros, assistentes domiciliares e médicos.

Em resumo, a política de imigração nos Estados Unidos é um tema complexo que envolve direitos humanos, economia e sociedade. A ONU defende a dignidade e a igualdade como pilares da convivência global, enquanto as ações de Trump priorizam a soberania nacional, muitas vezes em detrimento dos direitos de populações vulneráveis. É fundamental que se encontre um equilíbrio entre a proteção dos direitos humanos e a gestão da imigração, para que se possa construir uma sociedade mais justa e inclusiva.

*João Ibaixe Jr. é advogado criminalista, ex-delegado de polícia, especialista em Direito Penal, pós-graduado em Filosofia, Ciências Sociais e Teoria Psicanalítica e mestre em Filosofia do Direito e do Estado.

*Jonathan Hernandes Marcantonio é doutor em Filosofia do Direito e do Estado pela PUC-SP. Professor Universitário. Advogado com ênfase em Direito Público.


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O STF de ontem e o de hoje https://staging.aimprensaonline.com.br/2025/02/20/o-stf-de-ontem-e-o-de-hoje/ https://staging.aimprensaonline.com.br/2025/02/20/o-stf-de-ontem-e-o-de-hoje/#respond Thu, 20 Feb 2025 17:13:00 +0000 https://aimprensaonline.com.br/?p=68981 Opinião
Professor Ives Gandra da Silva Martins | Foto: Andreia Tarelow

Formei-me em 1958 em Direito na FDUSP e desde o início da década de 60,quando cinco dos atuais Ministros ainda não tinham nascido, atuo perante a Suprema Corte.

À época, o Poder Judiciário só podia dizer se uma lei era ou não constitucional, mas jamais elaborá-la e, mesmo no regime de exceção (1964-1985), sempre assim agiu.

Sendo assim, a característica maior do STF era ser um Poder Técnico e, portanto, um legislador negativo, em absoluta consonância com o previsto no artigo 103, §2º da CF/88, de acordo com o qual nem nas ações diretas de inconstitucionalidade por omissão poderiam os Ministros elaborar a lei, no máximo podendo declarar sua omissão inconstitucional e pedir ao Legislativo para fazê-la:

§ 2º Declarada a inconstitucionalidade por omissão de medida para tornar efetiva norma constitucional, será dada ciência ao Poder competente para a adoção das providências necessárias (…).

Hoje, entretanto, a Suprema Corte adota uma linha diferente, atuando também como legislador positivo e, até mesmo como corretor de rumos do Executivo, legisla e administra. Segue, pois, linha doutrinária cujo nome varia de neoconstitucionalismo, consequencialismo a jurisdição constitucional.

Significa dizer que, repetidas vezes, o STF tornou-se Poder Político, legislando em matérias que deveriam ser exclusivamente do Congresso, como no marco temporal, no aborto, na internet, casamento entre pessoas do mesmo sexo, drogas, anencefalia, etc.

Ocorre que o Judiciário, por não representar o povo, mas apenas a lei, ao exercer funções legislativas e administrativas, condena o país a ter 3 Poderes políticos e não 2 políticos e 1 técnico, gerando, a meu ver, insegurança jurídica, com eliminação do juiz natural, inquéritos intermináveis, alargamentos do foro privilegiado para um universo de cidadãos comuns, o estabelecimento de uma única instância sem via recursal, dificuldades de acesso às acusações, banalização das prisões provisórias e preventivas.

Por esta razão, os Ministros só podem sair cercados de seguranças, recebendo do povo o mesmo tratamento dos políticos, com apoio daqueles que representam a linha por quem o STF demonstra preferência no cenário político e críticas daqueles que não.

Lembro-me quando, nos 43 Simpósios de Direito Tributário que coordenei no Centro de Extensão Universitária, sempre trazendo Ministros do STF, STJ e desembargadores para palestrarem, que saia com os Ministros Moreira Alves, Oscar Corrêa, Sydney Sanches, Cezar Peluso, Cordeiro Guerra e outros para jantar, às vezes, andando sozinhos pela rua, sem necessidade de nenhum segurança.

Com todo o respeito que os eminentes Ministros da Suprema Corte, que são grandes juristas, merecem, entendo não ter sido tal atuação a vontade do Constituinte claramente expressa em dizer que caberia ao Legislativo zelar por sua competência normativa perante os Poderes Judiciário e Executivo:

Art. 49. É da competência exclusiva do Congresso Nacional:

XI – zelar pela preservação de sua competência legislativa em face da atribuição normativa dos outros Poderes;

Nunca discuti o nível dos Ministros, sua idoneidade moral e competência, mas permito-me, como um velho professor, divergir doutrinariamente da linha por eles adotada, lembrando que minha palavra serve, no máximo, para reflexões acadêmicas, enquanto que suas decisões têm força de lei.

No entanto, no momento que, uma vez examinados o Poderes Judiciários de 142 países, ficamos em 80º lugar no Rule of Law Index (Índice de Estado de Direito), publicado pelo WJP (World Justice Project), creio que muito há para meditar.

*Ives Gandra da Silva Martins é professor emérito das universidades Mackenzie, Unip, Unifieo, UniFMU, do Ciee/O Estado de São Paulo, das Escolas de Comando e Estado-Maior do Exército (Eceme), Superior de Guerra (ESG) e da Magistratura do Tribunal Regional Federal – 1ª Região, professor honorário das Universidades Austral (Argentina), San Martin de Porres (Peru) e Vasili Goldis (Romênia), doutor honoris causa das Universidades de Craiova (Romênia) e das PUCs PR e RS, catedrático da Universidade do Minho (Portugal), presidente do Conselho Superior de Direito da Fecomercio -SP, ex-presidente da Academia Paulista de Letras (APL) e do Instituto dos Advogados de São Paulo (Iasp).


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Sobre a agenda climática: por que se importar? https://staging.aimprensaonline.com.br/2025/02/08/sobre-a-agenda-climatica-por-que-se-importar/ https://staging.aimprensaonline.com.br/2025/02/08/sobre-a-agenda-climatica-por-que-se-importar/#respond Sat, 08 Feb 2025 12:02:00 +0000 https://aimprensaonline.com.br/?p=68496 Opinião

“O tempo para buscar soluções globais está se esgotando. Só podemos encontrar soluções adequadas se agirmos juntos e de acordo.” (Papa Francisco, em 11/12/2024 — Assessoria de imprensa do Vaticano)

Por Ênio Meinen, diretor de Coordenação Sistêmica, Sustentabilidade e
Relações Institucionais do Sicoob

 

Recentemente, assistimos à intensificação de notícias sobre o desembarque de algumas corporações — notadamente, empresas ligadas à indústria financeira e ao mercado de capitais — dos pactos associados à agenda climática. Em um contexto marcado por narrativas por vezes polarizadas e, não raro, irrefletidas, urge resgatarmos o porquê de esse tema demandar mais que uma atenção meramente passageira. Requer, com efeito, análise estratégica, que vai além dos interesses financeiros imediatos dos acionistas/donos; responsabilidade e, acima de tudo, coerência. Esses requisitos são ainda mais caros para o movimento cooperativo, que carrega na sua essência, e desde sempre, o compromisso com o desenvolvimento sustentável, cabendo-lhe exercer protagonismo diferenciado e coliderar as ações nesse campo.

Os efeitos adversos das mudanças climáticas são inegáveis. O ano de 2024 não nos deixou dúvidas: foi o mais quente da história, com uma média global de 15,10°C — 1,6°C acima dos níveis pré-industriais. Foi o primeiro ano em que a média anual ultrapassou o limite de 1,5°C estabelecido pelo Acordo de Paris, considerado crítico para evitar consequências climáticas severas. O relatório do Centro Europeu Copernicus alerta que esse aquecimento tem impulsionado eventos extremos, como secas, incêndios florestais e tempestades intensas, tendo as emissões de Gases de Efeito Estufa (GEE) como principal catalisador.

O mundo, conforme já alertara o ex-secretário-geral da ONU, Kofi Annan (15/11/2006 – Conferência sobre Mudança Climática de Nairóbi), “está chegando ao ponto de inflexão além do qual a mudança climática pode se tornar irreversível. Se isso acontecer, corremos o risco de negar às gerações presentes e futuras o direito a um planeta saudável e sustentável – toda a humanidade está a perder.”

A boa notícia é que a agenda climática abre caminhos, e o mercado já está respondendo. Instituições nacionais, como a Fundação Getulio Vargas, a Fundação Dom Cabral e o Instituto Brasileiro de Relações com Investidores, têm sinalizado que o mercado de carbono será uma das grandes tendências em ESG para 2025. A ampliação desse mercado promete não apenas mitigar impactos ambientais, mas criar incentivos concretos para que as empresas se reinventem, compensando emissões e adotando práticas mais sustentáveis.

Desprezar a agenda climática é negligenciar riscos e oportunidades econômicas significativos. As mudanças climáticas, com efeito, introduzem riscos físicos, como desastres naturais que afetam ativos e garantias, e de transição, resultantes de políticas ambientais mais rígidas que podem desvalorizar setores não sustentáveis. Por outro lado, há uma enorme oportunidade de transformar esses desafios em crescimento econômico inclusivo, mostrando que é possível prosperar de forma equilibrada.

A pressão por esse alinhamento já está na mesa — e nos corredores das regulamentações. O Brasil voltou a demonstrar protagonismo na arena climática, reafirmando o compromisso com o Acordo de Paris e estabelecendo uma meta ambiciosa: neutralidade de carbono até 2050. Iniciativas como a Taxonomia Sustentável Brasileira e o recém-criado Sistema Brasileiro de Comércio de Emissões de Gases de Efeito Estufa são ferramentas concretas para reposicionar o país na vanguarda das negociações climáticas globais. A COP-30, marcada para ser realizada em Belém, em novembro de 2025, é um convite claro para que o setor produtivo apresente resultados consistentes e fiéis ao discurso.

No setor financeiro, o avanço é igualmente significativo. O Banco Central do Brasil, sob a tutela do Conselho Monetário Nacional (CMN), vem aprimorando instrumentos para a análise e o monitoramento dos riscos social, ambiental e climático (RSAC), fortalecendo a Agenda BC# no pilar Sustentabilidade, em convergência com o art. 192 da Constituição Federal. A Comissão de Valores Mobiliários (CVM), por sua vez, avança ao regulamentar a integração de informações financeiras relacionadas à sustentabilidade nos relatórios consolidados das empresas de capital aberto. Essa convergência regulatória está transformando o mercado financeiro no Brasil, exigindo maior sintonia das instituições com as metas climáticas globais.

Nesse cenário, as cooperativas financeiras emergem como atores únicos. Mais do que intermediárias financeiras, elas têm uma vocação intrínseca: promover, em equilíbrio, o desenvolvimento econômico, social e ambiental. A forte presença física e a conexão direta com as comunidades são vetores para financiar soluções locais e inovadoras, como geração de energia renovável, agricultura regenerativa e economia circular. Quando uma cooperativa investe, por exemplo, em linhas de crédito verdes, não só apoia negócios sustentáveis, mas também contribui para a inclusão dos pequenos produtores rurais e empreendedores urbanos, na transição energética.

A agenda climática, enfim, não pode ser refém de ciclos políticos e ideologias de momento. Como movimento cooperativo, temos o dever particular — e o privilégio — de sermos referência na agenda humanitária em sua plenitude. Ela exige gestão baseada em evidências científicas, ações consistentes e compromisso com resultados reais.

No cooperativismo, lembremos uma vez mais, não perseguimos apenas metas operacionais; somos norteados por valores e princípios que priorizem o bem comum e assegurem um amanhã mais equitativo em diferentes dimensões. A escolha societária que fizemos, somada à decisão da Organização das Nações Unidas distinguindo-nos pela segunda vez com o Ano Internacional das Cooperativas, por acreditar que as nossas entidades constroem um mundo melhor, nos leva a reafirmar continuamente os laços com uma economia inclusiva, resiliente, sustentável e humanizada. Afinal, esse é o legado que nos cabe construir — e o fazemos como nosso propósito, e com determinação.

Por Ênio Meinen, diretor de Coordenação Sistêmica, Sustentabilidade e
Relações Institucionais do Sicoob


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Conectando marcas e consumidores: a importância do marketing de influência em grandes eventos https://staging.aimprensaonline.com.br/2025/02/05/conectando-marcas-e-consumidores-a-importancia-do-marketing-de-influencia-em-grandes-eventos/ https://staging.aimprensaonline.com.br/2025/02/05/conectando-marcas-e-consumidores-a-importancia-do-marketing-de-influencia-em-grandes-eventos/#respond Wed, 05 Feb 2025 19:49:00 +0000 https://aimprensaonline.com.br/?p=68412 Opinião

Por Julia Affonseca, Diretora de Negócios e Operações da Wake Creators

Hoje, os creators estão presentes em todos os grandes momentos que marcam a vida pública. Não há como impactar a opinião popular ou conquistar o afeto e a lealdade dos consumidores sem a inclusão dos influenciadores digitais nas estratégias de marketing para lançamentos, eventos e vendas. Segundo uma pesquisa recente da Business Insider Intelligence, o mercado global de marketing de influência está projetado para atingir US$15 bilhões até 2025, refletindo seu impacto crescente.

Esse tipo de estratégia é ainda mais poderosa em grandes eventos, como Coachella, Super Bowl, Olimpíadas, Rock in Rio, Lollapalooza e Fórmula 1, onde o alcance e o engajamento são muito maiores. Esses espaços atraem milhões de pessoas ao redor do mundo, unidas por interesses comuns, o que cria o cenário ideal para que influenciadores amplifiquem as mensagens das marcas de maneira autêntica. Com públicos engajados e fiéis, o impacto gerado vai além da simples publicidade, promovendo uma conexão emocional e duradoura entre marcas e consumidores.

Um exemplo disso é o Rock in Rio. Um estudo, realizado pela Wake Creators, sobre o festival destacou o papel dos influenciadores na criação de engajamento em torno do evento, no qual 88% dos creators mencionaram a importância de uma narrativa autêntica ao falar sobre suas experiências. Além dos grandes influenciadores, os micro influenciadores desempenham um papel essencial. Aqueles convidados a participar do festival, vivenciaram a experiência de perto e compartilharam seus pontos de vista de forma genuína e acessível, o que gerou ainda mais credibilidade junto ao público. Esse tipo de abordagem é marcante, pois os micro influenciadores, com audiências menores, têm uma conexão mais próxima com seus seguidores, o que torna suas recomendações mais autênticas e confiáveis.

Esse impacto é comprovado por um estudo da HubSpot, que revela que mais de 90% dos consumidores confiam mais em recomendações de influenciadores do que em propagandas tradicionais. Isso reforça a importância de integrar creators de diferentes tamanhos nas estratégias de grandes eventos como o Rock In Rio.

Os influenciadores, tanto de grande alcance quanto os micro influenciadores, não apenas promovem o festival e as marcas presentes, como também vivenciam a experiência e criam conteúdos genuínos que despertam identificação e desejo no público. Seja mostrando os bastidores, em experiências nos palcos ou participando de ativações, eles conseguem gerar curiosidade e inspirar o público a vivenciar experiências semelhantes, ampliando o alcance e a conexão emocional das marcas com o público.

Outro exemplo é a Fórmula 1. Conhecida por sua tradição, a F1 também tem atraído um público variado e se tornado popular entre os mais jovens, muito graças ao papel dos influenciadores digitais. De acordo com outro estudo que fizemos, 92% dos influenciadores entrevistados acompanham a Fórmula 1 e utilizam suas plataformas para comentar as corridas, os pilotos e até as marcas associadas ao evento.

Esses criadores de conteúdo conseguem traduzir a emoção da velocidade, educar o público sobre a técnica de maneira envolvente para seus seguidores, ajudando as marcas e o evento a se conectarem com uma audiência mais jovem e diversificada, incluindo em redes sociais como Instagram, TikTok e YouTube. Marcas que estão presentes globalmente na Fórmula 1 e até mesmo o evento em si perceberam a oportunidade de se conectar com esse novo público por meio de ações de incentivo e dos creators, ampliando seu alcance.

Para que campanhas de curto ou longo prazo em grandes eventos sejam bem sucedidas, aprendemos algumas lições importantes. A primeira é escolher parceiros confiáveis que possuam tecnologia e expertise em campanhas na creator economy. Plataformas de marketing de influência utilizam inteligência artificial e machine learning não só para acompanhar métricas, mas também para encontrar os influenciadores mais alinhados com os valores da marca e seu público.

Além disso, é fundamental incluir os influenciadores no processo criativo da campanha. Incluir o creator nesse processo torna a campanha autêntica, já que eles conhecem melhor que ninguém seu próprio público. O consumidor, especialmente os mais jovens, são sensíveis a conteúdos que pareçam forçados ou artificiais, por isso demonstrar verdade e falar a mesma língua que o seu público-alvo é tão importante.

A estratégia também precisa ser multicanal. Grandes eventos oferecem diversas oportunidades de engajamento – seja no local, nas redes sociais ou por meio de experiências virtuais – e as marcas que souberem aproveitar esses diferentes momentos criarão campanhas de maior impacto.

Por outro lado, o desafio está em manter a consistência da mensagem e garantir que os influenciadores compreendam o propósito da marca. Para que o marketing de influência funcione, é necessário que haja uma colaboração clara entre as marcas e os criadores de conteúdo, para que as campanhas sejam não apenas impactantes, mas também alinhadas com a identidade e os objetivos da empresa.

Por Julia Affonseca, Diretora de Negócios e Operações da Wake Creators


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A agropecuária é uma aliada ao combate aos incêndios em áreas rurais e periurbanas https://staging.aimprensaonline.com.br/2025/01/13/a-agropecuaria-e-uma-aliada-ao-combate-aos-incendios-em-areas-rurais-e-periurbanas/ https://staging.aimprensaonline.com.br/2025/01/13/a-agropecuaria-e-uma-aliada-ao-combate-aos-incendios-em-areas-rurais-e-periurbanas/#respond Mon, 13 Jan 2025 15:19:00 +0000 https://aimprensaonline.com.br/?p=68173 Opinião
Foto: Artesp

Por Paulo Campos Christo Fernandes e Giovana Alcantara Maciel (pesquisadores da Embrapa Cerrados)

São frequentes as queimadas nos meios rural e periurbano, principalmente durante a estação seca, após longos períodos de estiagem, como as que ocorreram no Brasil no ano passado e estão ocorrendo neste momento em Los Angeles, nos Estados Unidos.

Em áreas agrícolas, as queimadas provocam diversos prejuízos, como a perda da matéria orgânica fornecida pelos restos de culturas e plantas de cobertura e danos à microbiota do solo. Os prejuízos aos pecuaristas também são evidentes – há perda de biodiversidade, morte de animais, destruição de infraestrutura, como cercas, redes de energia elétrica e edificações.

A população local e as estradas são diretamente afetadas. O setor agropecuário moderno e eficiente não é tolerante às queimadas, uma vez que causam danos econômicos e ambientais. A urgência em resolver o problema é consenso na sociedade. Mesmo grandes cidades e aeroportos têm sido afetados pela baixa qualidade do ar, decorrente de partículas nocivas oriundas da fumaça produzida por queimadas generalizadas, como as que ocorreram nos últimos anos e se intensificaram na estação seca de 2024.

O território brasileiro é amplo e diversificado em termos de clima, solo e estrutura fundiária e as soluções precisam ser customizadas. Ações preventivas são menos onerosas do que o combate às chamas, mas precisam de orçamento anual, gestão descentralizada e transparência. É necessário ter equipes multidisciplinares para atuar nas etapas de diagnóstico, avaliação de risco, planejamento, monitoramento, combate precoce ao fogo, medição de impacto das ações preventivas e avaliação das lições aprendidas.

Regiões onde ocorrem queimadas intencionais devem investir em conscientização, capacitação e acesso às tecnologias de produção agropecuária, para que as populações rurais substituam a antiga prática de utilizar o fogo para limpeza de área e queima de lixo e adotem práticas modernas de manejo. É urgente deixar claro que provocar queimadas ilegais é crime.

O Brasil possui longa experiência em monitoramento de focos de queimadas, com uso de bases de dados de imagens de satélites, que permitem identificar, de forma inequívoca, os locais onde as queimadas foram iniciadas. Com essas informações, pode-se reforçar os alertas e as campanhas preventivas nas regiões de maior incidência histórica de focos iniciais de incêndios. A efetividade das operações de combate será maior se ocorrer nos primeiros minutos de fogo.

É importante que as ações preventivas ocorram durante a estação chuvosa. O “alerta climático” precoce de estiagem prolongada deve fazer parte dessa agenda para reduzir os riscos e, em algumas situações, induzir mudanças emergenciais no planejamento das ações de prevenção e combate a incêndios em áreas rurais e periurbanas.

As áreas de cultivos anuais naturalmente estão mais expostas ao risco de incêndios. A palhada, apesar de sua importância agronômica como fornecedora de matéria orgânica, prevenção da erosão, redução da temperatura do solo, entre outros benefícios, eleva esse risco. A proximidade das áreas agrícolas de comunidades rurais e estradas ainda é fator agravante.

Uma técnica de manejo eficiente é o pastoreio de animais no final da estação chuvosa com o objetivo de reduzir a quantidade de palhada. O pastejo controlado intensifica a ciclagem de nutrientes no solo e disponibiliza alimentação volumosa aos animais, além de reduzir o risco e facilitar o controle de queimadas. Apesar de ser uma estratégia barata, eficiente e ambientalmente correta, sua adoção deve considerar os planos de prevenção a queimadas e as legislações ambientais. O acero, que é a remoção de palhada por  meio de gradagem, próximo às estradas também é importante ferramenta para prevenção à entrada do fogo na propriedade rural.  

São várias as regulamentações federais e estaduais que propõem ações que podem auxiliar na prevenção de queimadas. A Política Estadual de Gestão e Proteção à Bacia do Alto Paraguai no estado do Mato Grosso (Lei n. 12.653/2024), por exemplo, admite o acesso à pecuária extensiva e à prática de roçada, visando justamente a redução de biomassa vegetal combustível e os riscos de incêndios florestais, desde que não provoque degradação ambiental, sendo proibida a substituição da vegetação nativa por gramíneas exóticas.

O Projeto de Lei 4.508/2016, em tramitação na Câmara dos Deputados, autoriza a criação de animais em área de Reserva Legal, mediante aprovação de plano de manejo florestal pelo órgão ambiental competente e com o objetivo de controle do volume de massa das forrageiras nativas ou cultivadas já existentes. O Projeto de Lei 1.533/2023, pronto para deliberação no Senado Federal, autoriza o plantio de culturas anuais em áreas laterais de rodovias, conhecidas como faixas de domínio, prática essa que auxiliará na manutenção de vegetação nas beiras das rodovias, diminuindo a biomassa disponível para queimadas. Uma inovação seria a inclusão de uma função de notificação de fogo e fumaça, em tempo real, em aplicativos de navegação por GPS, atualmente amplamente utilizados nos aparelhos celulares.

O período seco ocorre todos os anos, em menor ou maior intensidade, sempre trazendo riscos de queimadas e não pode ser considerado uma surpresa. As ações conjuntas de prevenção a queimadas devem ser estabelecidas e efetivadas no momento certo. Com a ampliação da adoção de boas práticas e o manejo adequado, a agricultura e a pecuária são aliadas aos planos de prevenção de incêndios no Brasil.

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Fruticultura Irrigada é um importante vetor de desenvolvimento regional e inclusão socioprodutiva https://staging.aimprensaonline.com.br/2024/10/24/fruticultura-irrigada-e-um-importante-vetor-de-desenvolvimento-regional-e-inclusao-socioprodutiva/ https://staging.aimprensaonline.com.br/2024/10/24/fruticultura-irrigada-e-um-importante-vetor-de-desenvolvimento-regional-e-inclusao-socioprodutiva/#respond Thu, 24 Oct 2024 16:19:00 +0000 https://aimprensaonline.com.br/?p=66344 Opinião
Pomar de maracujá com irrigação em assentamento de Flores de Goiás (GO) | Foto: Breno Lobato

A fruticultura tem grande importância para o Brasil nos aspectos econômicos, sociais e ambientais. O País é o terceiro maior produtor mundial de frutas, com produção anual de mais de 50 milhões de toneladas em aproximadamente 2,4 milhões de hectares, empregando mais de 5 milhões de brasileiros, o que representa cerca de 16% dos postos de trabalho no agronegócio nacional, de acordo com a Associação Brasileira dos Produtores e Exportadores  de Frutas e Derivados (Abrafrutas). O segmento da fruticultura ainda tem um grande potencial de crescimento, considerando a possibilidade de aumento da demanda do mercado interno e das exportações, que vêm crescendo nos últimos anos.

Ao associar a diversidade de clima e solos nos diferentes biomas com ciência e tecnologia, o Brasil é capaz de produzir uma ampla gama de frutas tropicais, subtropicais e temperadas em todas as regiões ao longo de todo o ano, gerando empregos em diferentes elos da cadeia produtiva e contribuindo para a segurança alimentar do País, com a oferta de frutas ricas em vitaminas e minerais, nutrientes essenciais à saúde. Do ponto de vista ambiental, a fruticultura também contribui para a preservação do ambiente, essencialmente em sistemas agroflorestais, mas também como diferentes opções de espécies de frutas nativas para a recomposição de áreas de reserva legal.

A fruticultura irrigada é um importante vetor de desenvolvimento regional e inclusão socioprodutiva porque pode ser realizada em todo o Brasil, incluindo regiões com menor desenvolvimento econômico e menor ocorrência e distribuição de chuvas ao longo do ano. Essa possibilidade permite a inclusão de comunidades rurais na economia por meio do emprego de qualidade e do empreendedorismo nas diferentes etapas da cadeia produtiva. Enquanto a inclusão socioprodutiva favorece pequenos e médios produtores, associações, cooperativas e organizações, incluindo os setores relacionados à agricultura familiar, a fruticultura permite a agregação de valor por meio do beneficiamento de frutas em diferentes produtos agroindustriais, gerando mais oportunidades de trabalho e renda tanto no campo como na cidade. 

A produção econômica na pequena e na média propriedade é viabilizada pela fruticultura irrigada, o que contribui de forma decisiva para a melhoria da qualidade de vida no campo. Em regiões onde há dependência de monoculturas ou da pecuária, a fruticultura é uma alternativa importante para a diversificação da produção e o fortalecimento da economia local, diminuindo assim a vulnerabilidade econômica. A fruticultura irrigada permite, ainda, a introdução de novos cultivos para diversificar a produção e diminuir riscos climáticos e de mercado. Quando bem planejada, a fruticultura pode ser uma atividade sustentável, ou seja, economicamente viável, socialmente justa e ambientalmente correta e responsável. 

Mas para que a fruticultura promova de fato o desenvolvimento regional sustentável, são necessários três pilares: ciência, tecnologia e inovação; transferência de tecnologia (TT), assistência técnica e extensão rural; e políticas públicas que resolvam problemas específicos de cada região ou comunidade, que podem ser de logística ou de acesso a crédito e a mercados internos e externos, por exemplo.

A Embrapa, em conjunto com as empresas estaduais de pesquisa, universidades e o setor produtivo, tem contribuído com soluções tecnológicas para promover a fruticultura irrigada em diferentes regiões do País. As tecnologias desenvolvidas estão relacionadas aos programas de melhoramento genético de frutíferas, com a geração e disponibilização de cultivares geneticamente superiores e a concepção de sistemas de produção mais eficientes, que adotam boas práticas agrícolas relacionadas à produção de material propagativo, o controle fitossanitário baseado no manejo integrado de pragas, além da nutrição equilibrada das plantas e do manejo responsável da irrigação e dos recursos hídricos.

O segundo pilar (TT) tem sido trabalhado pelas empresas estaduais de assistência técnica e extensão rural (ATERs), pelo Sistema Senar e pelo setor produtivo por meio de empresas de consultoria e dos departamentos técnicos de associações e cooperativas de produtores. O terceiro pilar (políticas públicas) depende das secretarias municipais e estaduais de agricultura, bem como de gestores públicos municipais, estaduais e federais. O sucesso do desenvolvimento regional depende, portanto, desses três pilares.

Existem exemplos importantes do sucesso da fruticultura irrigada no desenvolvimento regional no Brasil. Um dos mais conhecidos e produtivos é o polo de fruticultura irrigada e agroindustrial do Vale do São Francisco, na região de Juazeiro (BA) e Petrolina (PE), que transformou essa porção do semiárido nordestino numa das mais maiores produtoras e exportadoras de frutas frescas, especialmente de manga e uva. Outro exemplo é o Projeto Jaíba, localizado no Norte de Minas Gerais e que abrange principalmente pequenos e médios produtores, promovendo a inclusão produtiva de muitas propriedades rurais, incluindo aquelas ligadas à agricultura familiar.

Experiência mais recente é o Polo Agroindustrial e Bioenergético do Médio São Francisco, região que desponta com grande potencial produtivo na fronteira agrícola do Matopiba, que tem o município de Barra (BA) como centro da produção local. A região é composta pelos biomas Cerrado e Caatinga, com alta disponibilidade hídrica (por ali passam os rios Grande e São Francisco), grande quantidade de terra agricultável, clima favorável e localização privilegiada para logística e escoamento da produção. Para impulsionar a fruticultura irrigada na região, o Sindicato dos Produtores Rurais de Barra (SindBarra) e parceiros organizaram, em outubro deste ano, o I Seminário de Fruticultura Irrigada e lançaram para outubro 2025 a Feira Barra Agro Show.

Com base nas experiências de sucesso e nos pilares do desenvolvimento regional baseado na fruticultura irrigada, a Embrapa Cerrados (DF) e parceiros têm desenvolvido projetos nessa perspectiva. Um exemplo é o “Programa Frente: Programa de Inovação de Suporte à Rota da Fruticultura da Região Integrada de Desenvolvimento do Distrito Federal e Entorno”. O programa faz parte da Rota das Frutas RIDE-DF, que tem como objetivos aumentar a produção e o fornecimento de frutas para o mercado interno e externo; gerar emprego e renda na região do DF e Entorno; diversificar e implantar novas culturas com ações de pesquisa, capacitação, logística e mercado; fomentar e motivar novos agricultores na produção de frutas. 

Outro exemplo é o projeto “Desenvolvimento e implementação de ferramentas para manejo de irrigação e monitoramento do impacto socioeconômico das ações de fornecimento de sistemas de irrigação pela Codevasf a agricultores localizados no Polo de Irrigação do Planalto Central de Goiás”. O projeto faz parte da política pública Fruticultura Irrigada no Vão do Paranã, Nordeste de Goiás, é liderado pela Secretaria de Estado de Agricultura, Pecuária e Abastecimento de Goiás e conta com a parceria da Embrapa Cerrados, da Companhia de Desenvolvimento dos Vales do São Francisco e do Parnaíba (Codevasf), da Emater Goiás e do Senar. A iniciativa busca viabilizar a produção irrigada de frutas como manga e maracujá por 2.500 famílias de agricultores assentados de reforma agrária em Flores de Goiás, Formosa e São João d’ Aliança, municípios abastecidos pelas barragens do Rio Paranã e do Ribeirão Porteira. 

No Brasil, segundo dados do Cadastro Ambiental Rural (CAR), existem cerca de 7 milhões de imóveis rurais e a triste estimativa de que em 80% dessas propriedades o produtor não tem uma fonte de renda estável e suficiente para viver com qualidade de vida no campo. Promover o desenvolvimento regional, a inclusão socioprodutiva e a melhoria da qualidade de vida no campo é, portanto, um grande desafio nacional. Para isso, a fruticultura irrigada é uma importante alternativa, com diversos exemplos de sucesso em praticamente todas as regiões do País. Vale destacar que essas experiências exitosas contam, invariavelmente, com ações de pesquisa, desenvolvimento, transferência de tecnologia e inovação para melhorar a eficiência, a produtividade e a competitividade da fruticultura para a produção de frutas de alta qualidade em períodos de entressafra, possibilitando o acesso a mercados nacionais e internacionais. 

A geração de emprego e renda com a incorporação da mão de obra local em diferentes etapas da cadeia produtiva e a inclusão de pequenos e médios produtores é um aspecto social de grande relevância. Políticas públicas para acesso a crédito, apoio à comercialização, desenvolvimento de infraestrutura de irrigação e acesso a recursos hídricos, além de logística de transporte para escoar a produção podem ter grande importância, conforme as características de cada região. Os projetos de desenvolvimento regional com base na fruticultura irrigada devem considerar as particularidades regionais com relação a disponibilidade hídrica, solos e clima, além da vocação e das potencialidades para a fruticultura e do adequado planejamento para garantir a sustentabilidade econômica, social e ambiental da atividade.

As experiências de sucesso, o potencial de aumento da demanda dos mercados interno e externo, a disponibilidade de tecnologias para produção de diversas frutas em diferentes regiões brasileiras e a força do produtor rural brasileiro comprovam que a fruticultura irrigada é de fato um importante vetor de desenvolvimento regional e inclusão socioprodutiva e deve continuar a ser objeto de políticas e projetos que impulsionem o crescimento agrícola sustentável do País.  

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Recursos hídricos, queimadas e cinzas: a urgência do necessário equilíbrio na busca pela sustentabilidade ambiental https://staging.aimprensaonline.com.br/2024/09/10/recursos-hidricos-queimadas-e-cinzas-a-urgencia-do-necessario-equilibrio-na-busca-pela-sustentabilidade-ambiental/ https://staging.aimprensaonline.com.br/2024/09/10/recursos-hidricos-queimadas-e-cinzas-a-urgencia-do-necessario-equilibrio-na-busca-pela-sustentabilidade-ambiental/#respond Tue, 10 Sep 2024 20:45:00 +0000 https://aimprensaonline.com.br/?p=65634 Artigo
Foto: Arquivo Laboratório de Ecotoxicologia da Embrapa Cerrados

A água e o fogo são elementos que não se misturam, mas que se influenciam e podem comprometer significativamente a saúde das pessoas e toda a vida na Terra. A água é um elemento essencial à vida, mas em excesso pode trazer várias consequências negativas, como os episódios de enchentes e alagamentos vistos recentemente no Brasil. O fogo já era manipulado pelos povos primitivos há milhares de anos, e hoje é uma ferramenta fundamental para diversas atividades humanas. Contudo, se utilizado sem o controle necessário ou de formas criminosas, pode também ser extremamente nocivo e perigoso.

Resultados de estudos recentes mostram as interações entre esses dois elementos e, principalmente, as influências negativas do fogo sobre a água no nosso planeta. Vários artigos científicos têm relatado os efeitos das queimadas na redução da quantidade de água disponível, afetando, entre outros aspectos, a umidade do ar. Essas consequências estão amplamente relacionadas às mudanças climáticas e ao aquecimento global propriamente dito. 

E sobre a qualidade da água, o que se fala? Pouco. Como o fogo e a água não se misturam, são os resíduos deixados pelo fogo que interagem na água, causando interferências diretas e redução na sua qualidade.

Os impactos das cinzas de incêndios florestais sobre os recursos hídricos têm sido amplamente estudados em regiões temperadas, na Europa e nos Estados Unidos. No Brasil, o tema ganhou relevância no âmbito do projeto de pesquisa “Queimadas e recursos hídricos no Cerrado: efeitos das cinzas sobre aspectos limnológicos e ecotoxicológicos” (2010-2012) e, posteriormente, no “Projeto Cinzas: aspectos motivacionais de uso do fogo e efeitos sobre a água e o solo como subsídios para mitigação dessa prática na agricultura” (2013-2016), ambos liderados pela Embrapa Cerrados (DF) e financiados pelo Conselho Nacional de Pesquisa Científica e Tecnológica (CNPq). 

No entanto, ainda há muitas lacunas a serem preenchidas e várias questões a serem investigadas. O que se sabe é que as queimadas são eventos frequentes e naturais no Cerrado brasileiro, por exemplo, mas a ação humana tem ampliado a sua frequência e gerado diversos problemas ambientais. Além das perdas verificadas após o término do fogo, efeitos não facilmente visíveis também são detectados. As cinzas e a fuligem geradas pelo fogo são compostas por elementos químicos constituintes dos seres vivos queimados (vegetais ou animais) ou mesmo de materiais minerais, que podem ser degradados dependendo da intensidade do fogo. 

Com a chegada das chuvas, ou mesmo transportada pelo ar, parte desse material atinge os recursos hídricos, carreando uma série de elementos químicos capazes de alterar a qualidade da água, prejudicando seu grau de potabilidade e, principalmente, a sobrevivência das espécies que habitam os ecossistemas aquáticos. A presença de macronutrientes como potássio, fósforo e nitrogênio, além de micronutrientes como vários metais, é marcante nas cinzas, e as quantidades disponíveis de cada um desses elementos são o aspecto de maior relevância para a determinação das consequências. 

Em contato com a água, parte desses compostos se dissolve, alterando diversos parâmetros físico-químicos do meio aquático, entre eles o pH e o oxigênio dissolvido, fatores limitantes para a sobrevivência de algumas espécies. Nesse caso, ambientes com baixa vazão ou fluxo de água, tais como lagos, lagoas e reservatórios, podem ser mais comprometidos. 

A contaminação da água subterrânea pelas cinzas também foi estudada, e pode ser um ponto de atenção com relação a distúrbios digestivos em indivíduos que consomem água de poço, ou até mesmo um problema para irrigantes que utilizam essa água, visto que elementos como o cálcio e o magnésio podem prejudicar o funcionamento dos equipamentos de irrigação.

Dados relacionados ao comportamento humano mostram que o uso errôneo do fogo pode e deve ser minimizado, sobretudo com maior envolvimento de órgãos públicos, por meio da promoção de atividades instrucionais e de educação ambiental para as comunidades, além do combate a práticas que podem ser prejudiciais ao ambiente e à saúde humana. 

O fato é que o equilíbrio na interação entre água, fogo e ações humanas precisa urgentemente ser reestabelecido, de modo a reduzir os danos observados, garantindo assim a sobrevivência humana e a sustentabilidade ambiental do planeta.

Por Eduardo Cyrino Oliveira-Filho
Pesquisador da Embrapa Cerrados


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A agricultura irrigada no contexto dos Objetivos de Desenvolvimento Sustentável https://staging.aimprensaonline.com.br/2024/06/07/a-agricultura-irrigada-no-contexto-dos-objetivos-de-desenvolvimento-sustentavel/ https://staging.aimprensaonline.com.br/2024/06/07/a-agricultura-irrigada-no-contexto-dos-objetivos-de-desenvolvimento-sustentavel/#respond Fri, 07 Jun 2024 20:47:00 +0000 https://aimprensaonline.com.br/?p=63421 Artigo
Por Lineu Neiva Rodrigues, pesquisador da Embrapa Cerrados
Plantio irrigado de mandioca na Embrapa Cerrados | Foto: Fabiano Bastos

Em 2015, a Organização das Nações Unidas (ONU), pensando nos próximos 15 anos e nos problemas mais críticos a serem enfrentados pela humanidade, lançou o desafio aos seus 193 Estados-membros, incluindo o Brasil, de uma Agenda propositiva que pudesse potencializar o desenvolvimento sustentável e melhorar a vida das pessoas. 

Nessa Agenda, denominada de Agenda 2030 para o Desenvolvimento Sustentável, construída a partir de um processo participativo coordenado pela ONU, foram propostos 17 Objetivos, denominados de Objetivos de Desenvolvimento Sustentável (ODS). Para acompanhar o cumprimento desses objetivos, foram propostas 169 metas associadas que são integradas e indivisíveis, de natureza global e universalmente aplicáveis, tendo em conta as diferentes realidades, capacidades e níveis de desenvolvimento nacionais e respeitando as políticas e prioridades de cada país.

Os ODS, em síntese, visam garantir os direitos humanos; erradicar a pobreza e a fome; garantir água, saneamento e energia para todos; oferecer saúde e educação de qualidade para todos; combater as desigualdades e as injustiças; promover a igualdade de gênero e o empoderamento das mulheres e meninas; enfrentar a degradação ambiental e as mudanças climáticas; proteger a biodiversidade; estimular o desenvolvimento sustentável; além de promover sociedades pacíficas e inclusivas até o ano de 2030.

Qual o papel da agricultura irrigada nessa Agenda tão desafiadora? A cada dia, o fortalecimento da agricultura irrigada se mostra um imperativo para a segurança na produção de alimentos, fibras e energia no mundo, e ela deve estar cada vez mais alinhada à política agrícola e ambiental dos países, bem como ser ambientalmente sustentável, economicamente viável e socialmente justa.

A agricultura irrigada traz benefícios diretos à produção de alimentos e benefícios indiretos em relação ao emprego, ao ambiente, à economia e à qualidade de vida das pessoas. Dessa forma, contribui direta ou indiretamente para vários ODS da Agenda 2030.

Por aumentar a produtividade em até cinco vezes, dependendo da cultura, a agricultura irrigada contribui diretamente com o ODS de número 2, que visa acabar com a fome e dobrar a produtividade agrícola e a renda dos pequenos produtores de alimentos. Analisando o ODS 2, observa-se que as metas 2.3 e 2.4, que objetivam dobrar a produtividade agrícola e garantir sistemas sustentáveis de produção de alimentos até 2030, respectivamente, dificilmente serão cumpridas sem a contribuição da agricultura irrigada.

Uma das principais características da irrigação é reduzir a influência do clima na agricultura. Ao reduzir essa influência, ela traz estabilidade à produção de alimentos, cria oportunidades ao viabilizar a produção de certas culturas e contribui para que sejam produzidos alimentos de melhor qualidade. Nesse contexto, a agricultura irrigada, embora de forma indireta, contribui também para o cumprimento das metas 2.1 e 2.2 do ODS 2, que buscam erradicar a fome e garantir o acesso de todas as pessoas a alimentos seguros, nutritivos e suficientes durante todo o ano, bem como acabar com todas as formas de má-nutrição até 2030.

Uma das características mais interessantes da agricultura irrigada é a sua “efetividade”, pois ela viabiliza tanto a produção durante todo o ano como a produção de alimentos em regiões com baixa disponibilidade hídrica, possibilitando o desenvolvimento da agricultura em regiões onde não seria possível produzir. Com sua efetividade, ela viabiliza o desenvolvimento de regiões com baixo potencial agrícola, possibilitando a fixação do homem no campo, construindo economias locais dinâmicas, sustentáveis, inovadoras e favorecendo o empreendedorismo, a criatividade e a inovação. Algumas culturas, como a fruticultura, onde a irrigação é essencial, pode criar mais de seis empregos por hectare – empregos duradouros e de qualidade que favorecem a mão de obra feminina, promovendo o empoderamento econômico das mulheres. 

Com sua efetividade, a agricultura irrigada contribui com o ODS 1 (Erradicação da pobreza) e com o ODS 8 (Trabalho descente e crescimento econômico), principalmente para a meta 1 do ODS 1, que prevê erradicar, até 2030, a pobreza extrema para todas as pessoas, e a para as metas 8.1 e 8.6, que objetivam, respectivamente, sustentar o crescimento econômico per capita de acordo com as circunstâncias nacionais e reduzir substancialmente a proporção de jovens sem emprego, educação ou formação.

Ao intensificar a produção em uma mesma área, a agricultura irrigada é benéfica ao meio ambiente, contribuindo para reduzir as necessidades de desmatamento e a preservação da biodiversidade. A irrigação funciona como um seguro contra os períodos de incerteza hídrica, cada vez mais comuns. Na questão das mudanças climáticas, com potenciais impactos na temperatura e no regime de chuvas, a irrigação se apresenta como uma das principais tecnologias de adaptação, contribuindo para reduzir as incertezas do clima e trazendo estabilidade à produção. Contribui também com a mitigação das mudanças climáticas, uma vez que possibilita a exploração de mais de um cultivo anual, adicionando resíduos de matéria orgânica, além do acúmulo de carbono no solo. Nesse contexto, a agricultura irrigada contribui com o ODS 13 (Ação contra a mudança global do clima), principalmente para a meta 13.1, que visa reforçar a resiliência e a capacidade de adaptação a riscos relacionados ao clima.

Também é importante observar a contribuição da agricultura irrigada em relação aos ODS 6 e 15, Água potável e saneamento e Vida Terrestre, respectivamente, sobretudo em relação às metas 4.4 (ODS 6) e 15.1 (ODS 15). A meta 4.4 busca aumentar, até 2030, a eficiência do uso da água em todos os setores e assegurar retiradas sustentáveis e o abastecimento de água doce para enfrentar a escassez de água, bem como reduzir substancialmente o número de pessoas que sofrem com a escassez de água; já a meta 15.1 busca assegurar a conservação, recuperação e uso sustentável de ecossistemas terrestres e de água doce interiores. Nesses dois casos, para contribuir com esses objetivos, os sistemas de irrigação devem ser bem planejados e manejados para apresentar eficiências compatíveis com as tecnologias mais modernas. Sendo mais eficientes e utilizando uma menor quantidade de água, sem prejudicar a produção, liberam água para outros usos, contribuindo para reduzir as disputas hídricas. Sistemas com baixa eficiência de irrigação, entretanto, têm efeito contrário, e comprometem o alcance dessa meta e de outros ODS que buscam melhorar a vida das pessoas.

Produzir alimento é o principal papel da agricultura irrigada. Ao cumprir o seu papel, ela traz desenvolvimento sustentável, empregos de qualidade e melhora a vida a vidas pessoas. Assim, o papel da agricultura irrigada para o cumprimento de metas previstas em pelo menos seis ODS da Agenda 2030 é claro. Tornar o cumprimento dessas metas factíveis é um desafio para a humanidade, que pode ser facilitado com o fortalecimento da agricultura irrigada, o que requer um planejamento estratégico e políticas que priorizem a disponibilidade de água e a energia com qualidade.

Entretanto, ainda persiste o desafio de se buscar integrar de forma efetiva e estratégica as políticas de segurança hídrica e alimentar de forma a assegurar estabilidade para a produção de alimentos. Para que o papel estratégico do Brasil no cumprimento dos ODS possa ser consolidado, é importante que os nossos agricultores tenham segurança hídrica e energética. Isto é, ao se pautar questões essenciais que envolvam os recursos hídricos e o desenvolvimento da energia no País, deve-se colocar nessa pauta, como política de estado e de maneira estratégica, a irrigação como a principal tecnologia para garantir estabilidade e sustentabilidade à produção de alimentos.

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